Após reorganização financeira e operacional, a CVC, maior agência de viagens do Brasil, aposta em expansão da operadora
Após dois anos de arrumação de casa, com reorganização financeira e operacional, a CVC, maior agência de viagens do Brasil, aposta em um 2025 de crescimento dos seus negócios, contou o CEO Fábio Godinho ao Valor. Como forma de compensar a economia ainda complexa, o grupo tem aumentado a venda de produtos exclusivos, cujas margens são maiores, e lançado novas formas de pagamento, evitando assim brigar por um espaço no limite do cartão de crédito do cliente com outros grupos do varejo.
Das três unidades – Argentina, B2C (consumidor final) e B2B (empresa) -, a CVC cresceu somente na segunda em 2024. Na Argentina, a queda se deu por causa dos ajustes do atual governo. Em clientes empresariais, a queda reflete a crise da 123milhas, então importante player do setor e cliente da companhia. “Neste ano, a Argentina vendeu 50% mais em janeiro do que a gente esperava e o B2B voltou. Em 2025, pela primeira vez, as três vão crescer”, disse o executivo.
A reestruturação do grupo começou em 2023, com o retorno de Guilherme Paulus, fundador da CVC, aos negócios. O mantra do grupo naquele ano foi trazer a empresa de volta às origens, com foco na digitalização, mas também olhando para seu portfólio físico – movimento chamado no varejo de “figital”.
A perspectiva de crescimento chega mesmo diante de uma economia complexa, com juro mais elevado e câmbio complicando os planos dos viajantes. Neste cenário, o grupo quer ampliar as vendas de produtos exclusivos, segmento em que a CVC consegue negociar margens melhores.
A empresa investe também em novas formas de pagamento. “Quando chegamos [2023], 80% dos pacotes eram financiados no cartão de crédito. Hoje, é menos de 60%. Esse limite do cartão é uma porta muito pequena para todos os varejistas passarem. Competimos pelo limite com Pão de Açúcar, SmartFit, RaiaDrogasil…”, disse. Entre as alternativas estão financiamento via bancos, como Bradesco e Santander, e uso do saque-aniversário do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
“Em 2025, pela primeira vez nossas três unidades de negócio vão crescer”
— Fábio GodinhoO dólar mais caro tem levado uma parcela grande dos viajantes a investir em cruzeiros. Isso porque as grandes empresas do setor, MSC e Costa, mantiveram suas tarifas sem ajustes. “Cruzeiro é um tipo de compra que as pessoas fazem via agência”, disse. Hoje, a CVC é a maior vendedora de MSC e Costa no mundo.
Em 2025, a CVC quer aumentar a presença de lojas físicas – eram 1.196 unidades ao fim do terceiro trimestre de 2024, alta de 5,6% contra um ano antes. Antes da pandemia, entretanto, a empresa tinha mais de 1,4 mil.
Segundo dados da consultoria Phocuswright publicados em setembro, 50% de todas as reservas de viagens feitas no mercado brasileiro em 2024 foram off-line – ou seja, sem a ajuda de agências digitais ou de compras diretas em sites de companhias aéreas. Esse dado, segundo Godinho, mostra a oportunidade da CVC ao investir em lojas físicas.
Mesmo com o cenário macro, o executivo disse que as férias ganharam um novo espaço no orçamento das famílias no pós-pandemia. “A pessoa pode até desistir de viajar para a Disney, mas ela vai para Maragogi”, disse.
O executivo afirmou que não aposta em melhora tão significativa da economia entre 2025 e 2026, sobretudo com a eleição presidencial no próximo ano. “Achamos que temos espaço para que essa inflação comece a baixar. Com Selic de 13,25%, a economia não para de pé”.
A indústria de turismo tem sido bastante penalizada na bolsa no pós-pandemia, com recuperação mais lenta. Mas um anúncio recente do investimento da Prosus, dona do iFood, de compra da Decolar por US$ 1,7 bilhão, pode colaborar para virar esse humor, disse Godinho.
“Esse é um player relevante em tecnologia, que pode investir em diversos mercados, mas resolveu investir no turismo no Brasil e na América Latina. A CVC tem um Ebitda que é a metade do da Decolar e também metade das reservas brutas. Se o ‘valuation’ da CVC fosse a metade de Decolar, a ação da CVC seria R$ 10 [atualmente, está na casa de R$ 1,85]”,, argumentou o executivo.
Godinho foi questionado sobre sua visão acerca de consolidações no mercado aéreo. O tema tem dominado a indústria após a Abra, holding da Gol, e a Azul anunciarem, em 15 de janeiro, um memorando de entendimento para tratar da combinação de negócios entre as duas aéreas brasileiras.
“A dinâmica que temos sobre consolidação é que a prioridade é ter aéreas crescendo de forma saudável. Não adianta crescer tanto e cancelar voos por pontualidade inadequada ou ter balanço inadequado. A prioridade é termos crescimento racional e com responsabilidade financeira e operacional. Se vão ser três empresas ou duas, isso caberá ao (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) decidir”, disse o líder da CVC.
O executivo ponderou que as aéreas têm um desafio pela frente, com a indústria enfrentando dificuldade em aumentar o preço das passagens. “Tivemos um aumento sequencial das tarifas no mercado doméstico como um todo no início de janeiro. Acontece que, logo depois, vimos seguidas promoções por parte das aéreas. Isso mostra que o mercado atingiu um teto de preço. Em 2024, esses aumentos tiveram aderência e o mercado estava comprando. Agora, estamos andando de lado”, disse.
Na parte internacional, o executivo disse que o setor teve uma retração de tarifa em dólar no segundo semestre do ano passado, reflexo da desvalorização do real contra a divisa americana.
“Em dólar, vimos uma queda das tarifas na casa de 15%. O real mais fraco acabou ficando na margem e os voos no fim do ano e primeiro trimestre tiveram tarifas preservadas”, disse.
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